Carência x Tempo de Contribuição no INSS: Qual Diferença?

Carência x Tempo de Contribuição no INSS: Qual Diferença?

Pouca gente percebe, mas um dos maiores motivos de atraso ou até negativa de aposentadoria no INSS é a confusão entre dois conceitos parecidos, mas muito diferentes: carência e tempo de contribuição.

De um lado, o trabalhador acredita que, por ter contribuído ao INSS durante anos, já pode pedir o benefício. 

Do outro, o INSS analisa os requisitos e conclui que falta algo fundamental: a carência mínima exigida por lei.

Esse equívoco não é raro. 

Pelo contrário, acontece com segurados de todas as idades e profissões. 

O resultado é frustrante: depois de décadas de esforço, o pedido é indeferido e o segurado precisa correr para corrigir pendências que poderiam ter sido resolvidas antes.

A verdade é simples: carência e tempo de contribuição não são a mesma coisa, e entender essa diferença pode significar receber sua aposentadoria no prazo ou enfrentar meses, até anos, de espera e recursos.

Vamos lá?

Sumário

O que é Carência no INSS?

A carência é o número mínimo de contribuições mensais que o segurado precisa ter pago ao INSS para ter direito a determinados benefícios, como aposentadoria e auxílio-doença.

Sendo que a definição está no artigo 24 da Lei nº 8.213/91, que estabelece:

  • “Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício.”

Isso significa que não basta “ter trabalhado por muitos anos” ou “ter bastante tempo de INSS”. 

É preciso ter pagamentos mensais mínimos exigidos para cada tipo de benefício, e cada um tem sua própria regra.

Como a carência é contada

A carência é contada por competências, ou seja, meses em que houve contribuição, e não pela quantidade de pagamentos ou pelo valor pago.

No cálculo da carência, o que importa é o número de competências (meses) em que houve contribuição, e não apenas a soma total de valores pagos.

  • Cada mês em que você contribui, mesmo que apenas 1 dia trabalhado ou 1 contribuição paga, conta como 1 mês de carência.
  • Se pagar mais de uma vez no mesmo mês, continua contando como 1 mês apenas.
  • Pagar atrasado pode não contar para carência em alguns casos, especialmente se você perdeu a qualidade de segurado.

Por exemplo:

  • Se você pagar R$ 200 em janeiro e R$ 200 em fevereiro, terá 2 meses de carência.
  • Se pagar R$ 400 apenas em janeiro (valor equivalente a dois meses), continuará tendo 1 mês de carência.

Em resumo: o que vale é o mês, não o valor ou a quantidade de pagamentos feitos neste mês.

Exemplo de Quando 10 anos de contribuição não são 120 meses de carência

Muita gente se surpreende ao descobrir que, mesmo com anos de trabalho, não atingiu a carência necessária.

Imagine o caso da Maria:

  • Ela trabalhou registrada de janeiro de 2005 a dezembro de 2010 (6 anos).
  • Depois, de 2011 a 2015, atuou como autônoma, mas pagou ao INSS apenas em alguns meses.
  • Ao se preparar para pedir a aposentadoria, percebe que também tem períodos sem contribuição que poderiam, em tese, ser pagos agora em atraso.

No papel, Maria parece ter 10 anos de tempo de contribuição somados. 

Porém, quando o INSS verifica quantos meses efetivamente contam para carência, encontra apenas 96 meses válidos

Isso porque:

  • Meses sem contribuição não entram na carência.
  • Algumas contribuições feitas em atraso — especialmente quando a pessoa já perdeu a qualidade de segurado — podem contar apenas para tempo de contribuição e não para carência.

Resultado: mesmo com mais de uma década de trabalho e a possibilidade de complementar pagamentos, Maria não atinge os 180 meses de carência exigidos para aposentadoria por idade.

Essa diferença é uma das principais causas de indeferimento de pedidos no INSS e mostra por que é essencial conferir, mês a mês, quais períodos realmente contam.

É possível ter mais carência do que tempo de contribuição?

Sim, é possível, e até mais comum do que parece. 

Isso acontece porque carência é contada por meses (competências), enquanto o tempo de contribuição é contado em dias.

Imagine um exemplo para você entender melhor:

  • José foi admitido no dia 31 de janeiro e demitido no dia 5 de fevereiro do mesmo ano.
  • Na contagem da carência, isso vai gerar 2 meses (janeiro e fevereiro), pois cada mês com pelo menos um dia de contribuição conta como um mês inteiro.
  • Já no tempo de contribuição, esses períodos somados representam apenas 6 dias.

Agora imagine que, ao longo da vida, essa situação se repete várias vezes por mudanças frequentes de emprego. 

José pode chegar a ter, por exemplo:

  • 190 meses de carência, o que, na lógica da carência, supera os 15 anos exigidos para a aposentadoria por idade;
  • Mas, na contagem do tempo de contribuição em dias, pode ter menos de 15 anos completos, talvez algo em torno de 14 anos e alguns meses.

Nessa hipótese, mesmo com a carência suficiente, o benefício pode ser negado por falta de tempo de contribuição total. 

É um detalhe que muita gente desconhece e que reforça a importância de conferir os dois cálculos separadamente antes de entrar com o pedido de aposentadoria.

O que é Tempo de Contribuição?

O tempo de contribuição é o período total que você trabalhou e pagou o INSS. 

Isso vale para quem é empregado com carteira assinada, autônomo, trabalhador rural, facultativo (como dona de casa que paga por conta própria) ou servidor que contribui para o INSS.

A regra está no Decreto nº 3.048/99 e na Instrução Normativa nº 128/2022 do INSS, que dizem que tempo de contribuição é o período, contado de data a data, em que você realmente trabalhou ou pagou para a Previdência.

Aqui, cada dia conta. 

Por isso, o tempo de contribuição é diferente da carência, que é contada em meses completos.

Diferença para carência e Tempo de Contribuição

Quando falamos de tempo de contribuição, o INSS soma todos os dias trabalhados ou pagos ao longo da sua vida profissional e transforma isso em anos, meses e dias.

Já na carência, o que importa é o número de meses em que você contribuiu, mesmo que tenha trabalhado só um dia naquele mês.

 Por isso, é possível ter 15 anos de carência e, ao mesmo tempo, menos de 15 anos de tempo de contribuição

Isso acontece quando faltam dias para fechar o período total exigido.

Diferença Entre Carência e Tempo de Contribuição
CarênciaTempo de Contribuição
Contada em meses de contribuição (competências)Contado em dias trabalhados ou pagos, somados e convertidos em anos, meses e dias
Exige número mínimo de meses pagos para cada benefícioMede todo o período efetivo de trabalho e recolhimento ao INSS
Pagar mais de uma vez no mesmo mês não aumenta a carênciaMesmo poucos dias contam para aumentar o tempo total
Algumas contribuições atrasadas podem não entrar na carênciaContribuições atrasadas, em alguns casos, aumentam o tempo total
Foco: saber se você cumpriu o requisito mínimo de meses pagosFoco: saber quanto tempo total de contribuição você tem

Casos em que o tempo conta, mas a carência não (e vice-versa)

Quando o tempo aumenta, mas a carência não:

  • Pagamentos em atraso feitos por autônomos ou facultativos depois de perder a qualidade de segurado. Esses pagamentos podem ajudar a aumentar o tempo de contribuição, mas não entram na carência.
  • Serviço militar ou trabalho rural feito antes de novembro de 1991, que pode contar para o tempo total, mas não para a carência, dependendo do caso.

Quando a carência aumenta, mas o tempo quase não muda:

  • Se você começou um emprego no dia 30 e foi demitido no dia 2 do mês seguinte, o INSS vai contar 2 meses de carência, mas no tempo de contribuição serão apenas poucos dias.

Essas diferenças mostram que é muito importante olhar para os dois cálculos separadamente antes de pedir sua aposentadoria. 

Assim, você evita surpresas e não corre o risco de ter o benefício negado.

Carência é a mesma coisa que tempo de contribuição?

Não. 

Carência é o número mínimo de meses pagos ao INSS, já o tempo de contribuição é a soma de todos os dias trabalhados ou pagos, convertidos em anos, meses e dias. 

É possível ter um e não ter o outro completo.

Dá para se aposentar sem ter carência?

Na maioria dos casos, não. 

A carência é exigida para a maioria das aposentadorias, como por idade e por tempo de contribuição. 

Existem exceções, como aposentadoria por invalidez decorrente de acidente ou doenças graves listadas em lei, em que não há exigência de carência.

Conclusão

Entender a diferença entre carência e tempo de contribuição pode evitar grandes dores de cabeça na hora de pedir um benefício do INSS. 

Muita gente descobre essa diferença apenas quando recebe a notícia de que o pedido foi negado, mesmo acreditando que já tinha “tempo suficiente”.

Como vimos, é possível ter mais carência do que tempo de contribuição ou o contrário, e isso pode fazer toda a diferença para conseguir a aposentadoria ou outro benefício. 

Além disso, contribuições atrasadas, períodos sem pagamento e mudanças de trabalho podem alterar esses cálculos.

Antes de dar entrada no pedido, o ideal é conferir, mês a mês, se os requisitos estão completos para o benefício que você deseja. 

Isso evita atrasos, indeferimentos e até prejuízos financeiros.

Se você tem dúvidas sobre como está a sua situação, busque a orientação de um advogado previdenciário especializado

Um bom planejamento pode antecipar sua aposentadoria, corrigir falhas e garantir que todo o seu esforço ao longo dos anos seja reconhecido pelo INSS.

Até o próximo artigo!

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